INFORMAÇÕES SOBRE A SSVP

 

1) A SSVP E SUA APROVAÇÃO PONTIFÍCIA

2) O VOLUNTARIADO COMO PRÁTICA DE CARIDADE NO SEIO DA SSVP

3) OS FUNDADORES E UM BREVE RELATO DA FUNDAÇÃO DA SSVP

 

1) A SSVP E SUA APROVAÇÃO PONTIFÍCIA

 

A finalidade da fundação da SSVP era testemunhar a fé mediante atos concretos de caridade para com o próximo necessitado. Ozanam e Taillandier levaram à casa de um pobre um pouco de lenha para fazer fogo e preparar uma sopa de batatas. Foi o primeiro gesto de caridade destes jovens acadêmicos.

Diante da incerteza sobre quem atender e como assistir consultaram o professor Emanuel Bailly. Este conhecia a pessoa e os trabalhos da Irmã Rosalie Rendu, FC no bairro mais pobre de Paris, Mouffetard. Foi com esta “Filha da Caridade” que os jovens começaram o aprendizado da caridade, mediante a visita a domicílio e as primeiras orientações para um exercício efetivo no serviço dos pobres. A pessoa da Irmã Rosalie, a sua experiência no contato com as mais diversas categorias de pobres, o seu testemunho de desprendimento e de disponibilidade, incentivaram Ozanam e seus companheiros a empreender esta tarefa de caridade e de promoção humana. Foi assim o início simples e modesto das Conferências Vicentinas.

 A atividade da Conferência recebeu o apoio e aprovação dos Padres e da hierarquia da Igreja, pois os membros da Conferência se reuniam sob o signo religioso, com respeito e obediência à hierarquia eclesiástica.

Com o seu crescimento e sua expansão fora de Paris e mesmo fora da França, Ozanam esforçou-se por obter a aprovação de Roma, a fim de poder expandir-se em outros países e receber o apoio e a aprovação dos Bispos. E a Providência sorriu para Ozanam, pois ele tinha amizade e correspondência com Dom Bartolomeu Alberto Cappellari, então Prefeito da Congregação da Propagação da Fé (“Propaganda Fide”).

Desde Lyon, Ozanam mantinha contatos com ele e colaborava com esta obra missionária. Em 1831, Dom Bartolomeu Cappellari foi eleito Papa e tomou o nome de “Gregório XVI”. Ozanam e sua esposa Amélia Soulacroix foram agraciados com uma audiência particular do Papa já conhecido há muito tempo.

Por isso, entende-se, porque este mesmo Papa Gregório XVI aprovou o “Estatuto da Sociedade de São Vicente de Paulo”, com dois Breves: o de 10/01/1845 e o de 12/08/1845. E concedeu, ainda, as devidas indulgências próprias como “uma associação de natureza eclesial, mas com caráter leigo, ao serviço da Igreja e da Sociedade” (Vincentiens aujourd’hui – Animation Vincentienne - Nº 79/80 - página 48 e Roezniki

Wincentynskie - Nº 1 / 2003 – página 118).

  Os Breves deram à SSVP plena autonomia na sua organização e na administração dos seus bens patrimoniais, sem nenhuma interferência da hierarquia eclesiástica.

Hoje, a presença da SSVP no mundo, abrange 147 países, atingindo ou ultrapassando um milhão de membros ativos. Esses membros, leigos católicos de ambos os sexos, adultos, jovens ou adolescentes, idosos, mulheres ou homens, ricos ou pobres, têm, todavia, por objetivo comum:

   · a busca de equilíbrio entre oração e ação (unidade de vida);

   · um engajamento pela justiça social;

  · um encontro pessoal com os que sofrem (um relacionamento de proximidade);

   · realização de diversas atividades em constante adaptação, em colaboração com outros Ramos da Família Vicentina ou entidades afins.

Os seus membros aspiram em corresponder à sua vocação por uma vida de caridade e de apostolado, isto é: testemunho de sua fé pelo amor pessoal para com os que sofrem.

À luz das fontes evangélicas e dos ensinamentos do Vaticano II, e na presença deste mundo atual em que eles assumem a missão como leigos engajados, os vicentinos redefinem a missão própria e as suas aspirações.

A SSVP, com todos os seus membros, sente com a Igreja as novas dimensões da solidariedade universal. Os obstáculos gerados pelas injustiças sociais, as misérias da fome, os sofrimentos do subdesenvolvimento fazem parte da vida dos vicentinos e os interpelam em todos os continentes.

A vocação vicentina não se limita apenas no serviço dos pobres, mas também no conhecimento, aprofundamento e na vivência da espiritualidade vicentina que diz respeito às relações entre a pobreza, a justiça e a caridade. Fala-se hoje que no serviço do próximo e sobretudo dos mais pobres, há uma espécie de “sacramento” que é a proximidade do Cristo sofredor, presença nos pobres.

Lá se situa o centro da espiritualidade vicentina: ela põe à prova aquilo que pode significar a presença de Cristo na Eucaristia, como a sua presença nos pobres. 

 

2) O VOLUNTARIADO COMO PRÁTICA DE CARIDADE NO SEIO DA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

 

O Terceiro Setor é o grande espaço privilegiado para a ação voluntária e deve cumprir, basicamente, as seguintes funções:

  · Iniciar novas ideias e processos: o ambiente é propício para a inovação. A cada momento surgem ideias sobre como fazer as coisas de modo diferente, e se possível, melhor do que antes, inovando-se em áreas onde os órgãos públicos carecem de conhecimento ou temem se aventurar.

  · Influenciar políticas públicas: organizações voluntárias podem testar novas ideias, iniciar serviços controvertidos em seus estágios iniciais, e podem exercer influência direta na formatação e promoção de políticas públicas.

  · Apoiar minorias ou interesses locais: pode experimentar novas idéias com menos precaução que os governos, podem apoiar causas e interesses que seriam rejeitados por preconceitos ou interesses prioritários das maiorias.

  · Promover parcerias: Com frequência as organizações voluntárias estimulam e coordenam atividades nas quais tanto o governo como a empresa privada interagem em prol do bem público.

  · Ajudar outros países: as organizações voluntárias oferecem ajuda em situações onde o auxílio dos governos seria politicamente inaceitável.

  · Promover a cidadania participativa e o altruísmo: uma das mais importantes contribuições das organizações voluntárias, além do que fazem pelos seus beneficiários, é a transformação pessoal dos seus participantes voluntários.

O trabalho voluntário, as ações voluntárias e a concepção de voluntário não são temas com forte tradição de estudos ou mesmo debates na sociedade brasileira.

Historicamente este tipo de trabalho esteve vinculado à atuação de damas caridosas da sociedade (fundadas por São Vicente de Paulo), essencialmente tratando-se de um trabalho feminino.

Só recentemente, nas últimas décadas, em decorrência da luta por direitos humanos, civis e sociais é que este trabalho começou a ser visto, em algumas esferas da sociedade civil, como possibilidade de ação cívica, bem como de ação voltada para o bem alheio (ou público).

 A ação voluntária pode ser apenas uma ajuda informal (ao vizinho, ao colega), um esforço no sentido de consolidar o espírito comunitário, uma ajuda formal, através dos serviços sociais organizados e/ou uma oportunidade para mudanças sociais.

No Brasil, em maior ou menor grau, organizações tradicionais, especialmente as ligadas a movimentos religiosos e variadas instituições da área da saúde vêm realizando desde há décadas importantes contribuições no aproveitamento do trabalho voluntário.

Ao contrário de ações mais recentes a Sociedade de São Vicente de Paulo é, talvez, a mais antiga e enraizada Organização do gênero.

Religiosamente falando é um Movimento Católico Internacional de leigos, que surgiu para dar resposta às críticas que os ateus faziam aos estudantes católicos daquele tempo, dizendo: “Os cristãos não praticam o que pregam. Onde estão as suas obras de caridade?”.

     Embora sendo uma organização católica de leigos a SSVP estabelece livremente suas regras, elege seus responsáveis com toda independência, administra o seu patrimônio de maneira autônoma.

   Os vicentinos são voluntários que se empenham no apoio a indivíduos, famílias e grupos sociais marginalizados, através de ações variadas onde se privilegia o contato pessoal e direto e a visita domiciliar, não só com intuito de aliviar a miséria material e moral, mas também a descobrir e solucionar as suas causas.

Ozanam e os amigos começaram a procurar os pobres, para visitá-los em suas casas, levando-lhes alimentos, roupas, a amizade e a dedicação.

Este pequeno grupo formado por Ozanam e os amigos, tomaram como Patrono o Pai da Caridade, São Vicente de Paulo, que no seu tempo, se dedicou inteiramente ao serviço dos pobres, dos infelizes e dos que não tinham fé (1581-1660).

Grupos similares começaram a surgir em Paris, depois em toda a França, expandindo-se, a seguir, pelo mundo Cristão, com o objetivo de servir os mais necessitados, aliviando as suas misérias espirituais e corporais, por amor a Deus.

     No Brasil, a Sociedade de São Vicente de Paulo é conhecida pelas iniciais SSVP e a Conferência São José foi a primeira Unidade Vicentina fundada em território brasileiro, no Rio de Janeiro, em 04/08/1872.

    Atualmente a SSVP está presente em 136 (cento e trinta e cinco) países, com um número aproximado de 1 milhão de membros. O Brasil é o maior país vicentino do mundo.

 

2.1) As chamadas “obras de caridade”, ou “obras de assistência social”.

Nenhuma obra de caridade é estranha à SSVP. Sua ação compreende qualquer forma de ajuda, por contato pessoal, no sentido de aliviar o sofrimento e promover a dignidade e a integridade do homem.

A SSVP não somente procura mitigar a miséria, mas também descobrir e remediar as situações que a geram. Leva sua ajuda a quantos dela precisam, independentemente de raça, cor, nacionalidade, credo político ou religioso e posição social: daí a existência das chamadas Obras Unidas (hospitais e santas casas; clubes de serviços; creches e escolas; instituições de longa permanência – asilos, casas de repouso, abrigos e casas de recuperação; vilas; fábricas; cantinas; prestadoras e/ou agenciadoras de serviços; funerárias; cemitérios; hotéis; centrais de distribuição de alimentos e/ou diversos, entre outros) além de milhares de famílias assistidas.

Os membros da SSVP, Confrades e Consócias (os Vicentinos), são unidos entre si pelo espírito de pobreza e de partilha.

 

2.2) As finalidades da Sociedade de São Vicente de Paulo e sua técnica assistencial.

     Sua finalidade principal é promover a santificação de seus membros por meio da prática da caridade (vivência real do evangelho). Prestar serviços aos que estiverem em dificuldades e levá-los a Deus sempre que possível.

     O vicentino deve insistir na promoção integral do assistido, orientando-o no plano material, mas muito mais no plano espiritual, para levá-lo à participação no Reino de Deus. Assim sendo, os vicentinos devem estar sempre buscando orientações e atualizando-se nas modernas maneiras de assistir os homens de nossos dias, em suas misérias.

 

2.3) As Conferências Vicentinas e sua sistemática operacional.

As Conferências vicentinas, ou “Conferências de São Vicente de Paulo’, como também são chamadas por alguns, são grupos de pessoas, formadas, de no máximo, 15 (quinze) membros, um número considerado ideal, mas que pode variar. Evita-se com isso lentidão na assistência às famílias. Sua sistemática de operação é simples: reuniões semanais, com visitas às famílias assistidas, acompanhada de disponibilidade, humildade, simplicidade, zelo, afeto e espiritualidade.

O acesso aos serviços prestados pela SSVP é através de avaliação (sindicância) com a família (se houver), além de quem a indica para tal.

É feita, sempre, uma avaliação sobre a situação apresentada e a capacidade de atendimento e da prestação dos serviços. Sendo aprovada a ajuda a família passa a receber visitas semanais e ser atendida nas necessidades.

Não sendo aprovada a ajuda a família poderá ser encaminhada para uma entidade que tenha as condições técnicas de atendimento (da própria SSVP ou de terceiros).

A busca da participação da comunidade é permanente e vital para o funcionamento da SSVP, uma vez que suas contribuições (especialmente financeiras) sustentam seu trabalho de assistência social.

Entre as atividades desenvolvimentos pode-se citar: trabalhos voluntários eventuais, promoções sociais (especialmente financeiras), visitas regulares e esporádicas, distribuições de panfletos, trabalhos religiosos (missas e celebrações).

Destaca-se a integração com a comunidade religiosa não católica, seguindo as diretrizes da ação ecumênica adotada pela Igreja Católica Apostólica Romana.

A prioridade na adequação do prédio tem como objetivo principal a maior e melhor assistência aos atendidos.

 

2.4) Avaliação dos trabalhos e da assistência social prestada.

A avaliação de todos os trabalhos desenvolvidos é realizada semanalmente (pelas Conferências) e mensalmente (pelos Conselhos, Obras Unidas e Comissões de Jovens), durante as reuniões ordinárias e das diretorias, sempre abertas à participação do público em geral. Ao fim de cada ano, por exigência da administração da SSVP, é feita uma avaliação geral.

 Associada a isso se pode citar a fiscalização administrativa efetuada por órgãos específicos da própria SSVP.

 

2.5) Promoção das famílias assistidas.

     “Sentemo-nos a cadeira despedaçada que nos for oferecida. Conversemos com os pobres. Esta conversa trará confiança. Conheceremos os seus males todos, todos os seus desejos, seus vícios talvez. Nós lhe daremos conselhos com conhecimento de causa. Conseguiremos que seus filhos vão às escolas, que se evite a vadiagem, procurando-lhes ensino profissional.” (Emmanuel Bailly, 1841)

     “Precisamos ter o olhar penetrante, o espírito suficientemente livre, para reconhecer essas formas atuais, locais e movediças da pobreza. Por outras palavras, para adaptar às circunstâncias a nossa ação caritativa.”

(Pierre Chouard)

 

3) OS FUNDADORES E UM BREVE RELATO DA FUNDAÇÃO

 

A primeira reunião para fundação da Sociedade de São Vicente de Paulo realizou-se aos 23/04/1833, na redação da Tribuna Católica (em Paris, França) e contou com a participação dos seguintes fundadores(11):

 

NOME

NASCIMENTO

IDADE

Emmanuel Joseph Bailly

09/03/1793

40 anos

Paul Lamache

18/07/1810

22 ANOS

Auguste Le Taillandier

28/01/1811

22 ANOS

Jules Devaux

18/07/1811

21 anos

Fréderic Ozanam

23/04/1813

20 anos

François Lallier

24/01/1814

19 anos

Félix Clavé

1811

21 anos

     

Colocada sob o patrocínio de São Vicente de Paulo, inspira-se no pensamento e na obra deste Santo, esforçando-se, sob o influxo da justiça e da caridade, por aliviar os sofrimentos do próximo, mediante o trabalho coordenado de seus membros.

Fiel a seus fundadores tem a preocupação de renovar-se constantemente e adaptar-se às condições mutáveis do mundo. De caráter católico, está aberta a quantos desejam viver sua fé no amor e no serviço a seus irmãos.

A unidade da SSVP no mundo é representada por sua Regra (no Brasil, o Regulamento). Busca, incansavelmente, um trabalho de maior contato e aproximação com a Igreja, através do Clero.

Os membros da SSVP, confrades e consócias (os vicentinos), são unidos entre si pelo espírito de pobreza e de partilha. Formam, no mundo inteiro, com aqueles a quem prestam auxílio, uma só família, buscando contato com todos os demais movimentos e organizações inspirados em São Vicente de Paulo: é a Família Vicentina.

Os vicentinos procuram, pela oração, pela meditação da Sagrada Escritura e pela fidelidade aos ensinamentos da Igreja, ser testemunhas do amor a Cristo, em suas relações com os mais desprovidos, bem como nos diversos aspectos da vida oportunidade.